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TROLHAS

PARA ANIMADORES

Trolhas como campo ou Trolhas como missão?

 

É uma linha tangível embora de difícil delimitação. Aquilo que estabelece esta ténue separação é a vontade e entrega de cada um. É aquilo que cada um quer que o campo seja.

 

Marcado, sobretudo, por relações. Por aquelas que se estabelecem com a aldeia, onde somos recebidos de braços abertos e olhados com um apreço desmedido, quase ouso dizer imerecido e desproporcional àquilo que somos e ao que fazemos lá. Relações... Relação com as obras. Afinal, quantos de nós já haviam montado andaimes, feito cal, lixado muros e paredes ou pintado com rolo? Relação também entre trolhas... Animadores e animados são quase um só. Todos somos trolhas... de uma relação tão forte que leva a crer num qualquer ritual de "juramento" à luz de infindáveis conversas que passam de ocasionais a queridas, de superficiais a partilhadas. Relações... Relação com Deus. Ele que nos preenche as tardes em oração e partilha e que ao longo do dia se dá em nós e por nós nas obras da aldeia. Ou não seremos nós instrumentos Dele, tratados com todo o cuidado e dedicação com que nos entregamos aos muros e às tintas? Relações...

 

Mas nem tudo são obras... ou pelo menos "obras de construção". É-nos confiada também uma outra "obra"... Dedicamos o nosso tempo de descanso por excelência, "a sorna", à aldeia, à população, por vias distintas. Seja por visitas ao lar onde conversamos com os mais idosos, seja por brincadeiras com as crianças, visitas aos doentes ou mesmo pelo simples "convívio de café", onde mostramos quem somos, de onde vimos, o que nos moveu até ali. E aqui, recebemos horas de conversa de quem tem tempo para dar e muito para contar. Relações...

 

Claro que tudo isto proporciona surpresas inimagináveis e gestos de retribuição bem maiores do que aqueles que damos. Seria impossível esquecer as constantes ofertas para as refeições das "especialidades" de cada aldeão. E os mimos, tão grandes como a oferta para nos lavar roupa, chocolates para um batalhão ou mesmo um jantar nas suas casas.

 

Relações... A tudo isto, acresce os intermináveis elogios à escola impecavelmente pintada, a felicidade dos mais velhinhos que podem passear no jardim do lar sem tropeçar nas ervas daninhas, a presença de toda a aldeia no arraial final, onde todos se entregam a danças e músicas tradicionais portuguesas e bem típicas do Camtil.

 

Relações...

Tudo isto é mais do que suficiente para nos aquecer nas frias noites dos lugares onde acampamos ou acantonamos, bem como para nos sarar das feridas mais, ou menos dolorosas, típicas de quem é trolha por dez dias.

 

Madalena Boissel

 

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